outubro 11, 2011
Por força da lei _ Ricardo Costa
Liga: para onde vais?
O processo eleitoral na FPF mostra que os contorcionismos são surpreendentes, em nome de exposição, algum poder e as linhas de um “projeto”. É o tempo de se conquistar exaustivamente para a “lista” quem se espezinhou no passado; agora é o tempo de prolongar o “consenso” com nomes elogiados pelos arautos de uma “nova era”. O “power point” está pronto e a “literatura” afinada. As avenças escondidas passam para outro espaço. Até ao fim do mês, após a desistência de Soares Franco, espera-se pouco, a não ser política e “papers” a rodar pelas cadeiras. Enquanto se constrói a (quase) unanimidade pedida, o presidente “exaustivo” está a caminho. Até já pediu audiência na confederação, que será o destino ansiado, abrindo nessa altura a sucessão. Está montado um círculo de curto e médio prazo, que não resistiria a um conjunto de lideranças inovadoras… Não será o caso, mas que era mais interessante do que o óbvio, lá isso era.
Se o óbvio acontecer (ou mesmo que não aconteça), abre-se o maior desafio desde a sua fundação à Liga de Futebol Profissional. Em 2006, alguns prognosticaram que os órgãos então eleitos iriam ser uma comissão liquidatária de uma Liga decadente. Enganaram-se. Foi difícil estabelecer a antonímia com o passado. Mas consolidou-se, apesar das resistências geradas, o equilíbrio financeiro, a organização dos recursos humanos, a redefinição da imagem e da credibilidade das provas, a gestão mais profissional, a autonomia e a credibilidade das “áreas críticas” (arbitragem e disciplina), a transversalidade do rigor e da transparência. Depois de 2010, com o regime legal a esvaziar a Liga, seria o tempo ideal para implantar o grande desafio da sua reconversão, sem arbitragem e sem a disciplina das competições, mas com o futebol que se quer acompanhar. Era o tempo de largar as “amarras” que se eternizam (apostas e televisão, por exemplo) e montar em definitivo uma organização e uma indústria feitas para o interesse dos clubes. Já percebemos que esse desafio, além do “show off” e do “consenso” que tanto se preza por cá, não foi nem é para um qualquer “funcionário”.
A meio do mandato anterior da Liga, a UEFA revelou que o nosso principal campeonato ocupava o 10.º lugar em média de espectadores presentes nos estádios, atrás da Bélgica ou da Escócia. O panorama não mudou entretanto e mantém-se desolador. Um novo período de uma Liga robusta tem de começar por aqui – um “programa global” do adepto. Alguns traços: 1) impor a ocupação de 3/4 dos estádios através de ingressos baratos; 2) determinar pacotes familiares com custo baixo e “marketing” incorporado; 3) associação do adepto à aquisição de bens e serviços; 4) ajustamento dos horários televisivos; 5) transformar o estádio em lugar de animação. Um programa a quatro anos (Alemanha e França dão bons ensinamentos) que dê o poder das massas aos clubes. Com esse novo poder “sentado” nos estádios teríamos um futuro mais aberto no profissionalismo, num ciclo difícil, em que será mais do que muita a tentação de a Federação “engolir” a Liga. Falta saber, se assim for, quem vestirá a pele do carrasco...
In Record
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