outubro 28, 2011

Tempo Útil _ João Gobern


Filho pródigo

Por uma vez, mesmo que isso desencoraje e enfraqueça os campeões das teorias da conspiração, proponho a via mais simples e transparente para olhar um dos momentos da semana – o reencontro de Jorge Nuno Pinto da Costa com André Villas-Boas (ou vice-versa) por ocasião da entrega dos Dragões de Ouro. Antes de mais nada, o troféu atribuído ao atual técnico do Chelsea, o de Treinador do Ano, parece da mais elementar justiça: foi campeão liderando uma equipa sem derrotas, colecionou mais uma Taça de Portugal, entrou para o núcleo restrito dos que levaram o FC Porto à conquista de provas europeias.

Sabe-se, ainda assim, que um veto presidencial poderia subverter esta elementar lógica e que o caminho percorrido por Villas-Boas, indesmentível, irrefutável, evidente, facilmente seria esquecido se a liderança do clube assim o entendesse. Felizmente, Pinto da Costa decidiu reduzir o episódio da partida de Villas-Boas para terras de Sua Majestade a um acontecimento quase natural, próprio de alguém que corresponde a uma legítima ambição de crescimento e a um desafio excecionalmente remunerado. Desta vez, Pinto da Costa optou por ser magnânimo e pragmático, tudo ao mesmo tempo, uma vez que acabou por amealhar 15 milhões de euros (que ajudaram a apagar jogadores) e ainda conseguiu baixar as despesas com a equipa técnica, apostando na promoção de um adjunto.

Para os adeptos (do FC Porto e, já agora, de outros clubes que ainda não perceberam que há um tempo para as guerrilhas e outro para o uníssono vibrante), os discursos de ambos foram verdadeiras peças de antologia. Mas se o de Villas-Boas acaba por não surpreender por aí além, o fervor de Pinto da Costa passa a imagem de um homem quase pacificado consigo mesmo, por conseguir chamar a casa um filho pródigo, deixando passar – voluntária e explicitamente – a ideia de que, devidamente ponderado, um regresso lá mais para diante, consoante o êxito internacional do jovem treinador, não estará posto de parte. Já agora: não acredito que haja qualquer intenção de enfraquecer o estatuto de Vítor Pereira. Para o atual técnico portista, os problemas são outros: não só tem que conviver com a pesada herança como, mesmo ganhando jogos por 5-0 e liderando o campeonato, é frontalmente contestado a nível interno. Ou, pelo menos, por distintos legionários da intelligentsia clubista. Resiste ou não? A viagem a Chipre vai ajudar a escrever a resposta.

NOTA – Da clareza à confusão em meia dúzia de passos, com notáveis de clubes não menos notáveis a fintarem as posições oficiais e a desviarem apoios, as eleições para a Federação complicam-se. Vêm a caminho os truques de bastidores e os argumentos de baixo nível. Aposto.


In Record

1 comentário:

Jotas disse...

Caro Redcristal, antes de mais foi um gosto conhecer esta maravilhosa catedral, linkarei e certamente virei com regularidade a este espaço fantástico.
Jotas, da outra catedral, a do desporto.

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