janeiro 12, 2011

Bloco de notas _ Nuno Farinha



O peso da herança

A saída de Di María continua a ser uma indisfarçável pedra no sapato dos responsáveis do Benfica. Seis meses depois da partida do argentino para Madrid, não é ainda possível perceber de que forma irá Jesus resolver os (des)equilíbrios – ofensivos e defensivos – a partir do lado esquerdo. Vamos por partes. Gaitán foi a primeira solução identificada para eliminar o problema que iria nascer com a venda do “abre-latas” ao Real de José Mourinho. Não houve qualquer dúvida em assumir que o esquerdino encontrado na Bombonera chegava para cumprir exatamente o mesmo papel que estava entregue a Di María. Mas também não foi preciso esperar muito tempo para se perceber que, afinal, se tratavam de jogadores com características muito distintas. Di María rompe por qualquer lado e desequilibra um jogo numa ação de 1x1, é velocíssimo, tem passada larga, chega à linha de fundo três, quatro, cinco, seis vezes durante os 90 minutos. Gaitán é feito de outra matéria. Menos explosivo, mais fino, prefere a bola no pé e tem tendência natural para pisar terreno interior. Não é preciso ser treinador de futebol ou agente FIFA para chegar à conclusão que Gaitán se sente mais confortável como falso avançado ou mesmo playmaker. Quem joga na esquerda, tem a esquerda. Quem joga no meio, tem o campo todo. Foi sempre assim. E há quem precise de liberdade e raio de ação largo para poder explodir. Está aqui um desses casos.

Houve outras soluções pensadas e testadas para o lugar. Fábio Coentrão, por exemplo. Ainda se estava no verão e já Jesus, antecipando um quadro de dúvidas, dava voltas à cabeça para conseguir clonar o Benfica da última época. Coentrão teria capacidade para assumir a substituição de Di María? Aparentemente, sim. Na prática, não. Está lá a velocidade, provavelmente até mais, mas falta o drible em espaço curto para ultrapassar blocos baixos e linhas demasiado juntas. Ainda fez a posição em meia dúzia de jogos, mas rapidamente voltou à defesa. Mais uma carta fora do baralho.

Acabou por ser Gaitán a assumir a responsabilidade de criação pelo lado esquerdo durante a maior parte do tempo. Melhorou, foi crescendo até dezembro e terminou o ano em plano muito razoável. Só que a decisão de procurar um ala puro já estava tomada desde que se percebeu o erro de casting em que Jesus caíra. Por isso a chegada esta semana a Lisboa de José Luis Fernández. Mais um argentino, mais um esquerdino, mais um candidato a herdeiro de Di María. Se os observadores do Benfica acertaram, desta vez, com o perfil, então, sim, a equipa terá outras condições para evoluir e aproximar-se do seu figurino anterior – ganhando imprevisibilidade e largura que não tinha naquele lado. Em teoria será isto e, visto assim, é tudo fácil. O difícil é Fernández suportar, também ele, o peso de quem sucede a um dos melhores jogadores da atualidade.

Di María demorou três anos a fazer esquecer Simão Sabrosa. Custou, mas foi. Passaram apenas seis meses e sucedem-se os candidatos a fazer esquecer… Di María. Já foi Coentrão, já foi Gaitán e agora é Fernández. Nolito vem já a seguir.

In Record

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