(In)certeza
A semana foi cruel, mais cruel do que outras. O
Júlio Resende apagou-se, o José Niza também. “E Depois do Adeus?”. No
caso do Zé, fica a recordação pessoal de momentos inolvidáveis. Mais
ainda aquele, nos anos do Paulo de Carvalho, em que a pedido dele li um
texto, texto bonito, outro texto bonito da sua lavra, que o médico era
mesmo um terapeuta das letras, das palavras, sempre tão bonitas, sempre
tão carregadas de afeição, de profundez.
E depois do adeus? Fica a
recordação bonita do Zé Niza, pendurado no enésimo cigarro. Era bonito?
Era assim mesmo, era como ele era. Era como eu o via sempre, era como
eu não queria deixar de o ver. Até porque há gente mais bonita que outra
gente, gente que diz mais que outra gente, gente que faz mais falta que
outra gente. E só um FC Porto-Benfica mitigou a minha angústia no
rescaldo quente da notícia gelada.
A igualdade no Dragão foi
escrita com chutos bonitos? Também foi. Mas foi, sobretudo, escrita com
as letras da justiça. Neste momento, o Zé Niza só poderia, se quisesse,
repartir prosas bonitas por duas equipas que se equivalem no poderio, na
qualidade, na acção. O Júlio Resende, se quisesse, pintaria dois
quadros de valor semelhante, de porte idêntico, de carga parecida.
FC
Porto e Benfica escrevem e pintam, na actualidade, de forma muito
aproximada. Quem escreve melhor? Quem pinta melhor? Têm muto Niza, têm
muito Resende. Nenhum tem mais Niza que o outro, nenhum tem menos
Resende que o outro. Têm tanto de Niza, têm tanto de Resende, que não dá
para arriscar quem escreve mais, quem pinta mais. A semana foi cruel,
intelectualmente bruta, criativamente madrasta.
Também desta vez,
tal como de outras, o futebol fez de lenitivo, foi consolo, foi
refrigério. E deixou a mais bonita e teimosa das interrogações. Quem vai
vencer esta temporada? O FC Porto ou o Benfica? Com palavras do Niza,
com pinturas do Resende, com outras coisas lindas, outras que nem tanto,
outras que nada mesmo, quem ousa, nesta altura, arriscar?