setembro 16, 2011
Tempo Útil _ João Gobern
Loja sem saldos
Em três minutos, pareciam descer sobre o Dragão todo o dramatismo e toda a magia do futebol. Primeiro foi Hulk que fez o que não costuma, teleguiando uma bola desde a marca de penálti até à base de um dos postes da baliza dos ucranianos. Depois foi Helton que deslizou, deixando por completar uma defesa em que nada parecia poder perturbá-lo. Seguramente, houve quem pensasse que perante os reveses da fortuna, o FC Porto – amputado de Sapunaru, Guarín e sobretudo Rolando, apostado em mostrar a compatibilidade entre Moutinho e o recém-chegado Defour (fez ontem o segundo jogo como titular) e disposto a reconhecer a importância de Fernando, pouco rodado esta época – iria tremer.
Esqueceram-se esses adivinhos da importância indesmentível que tem para uma equipa (e para o clube) o facto de estar a completar 300 jogos em competições europeias, mantendo nas últimas épocas uma cadência galopante de presenças na Liga dos Campeões. Além disso, não tiveram em conta que boa parte da espinha dorsal dos campeões que assinou a fantástica campanha na Liga Europa da última época se manteve e, apesar dos anunciados amuos por culpa de saídas frustradas, não perdeu gás. Mais: no elenco, há gente nova a quem se vaticina largo futuro mas que parece empenhada em garanti-los desde já. Defour e Kléber são exemplos, James Rodríguez é porventura o caso mais categórico do presente momento, uma vez que joga, acelera, finta, desmarca, remata e assiste com classe que desmente a sua idade. Ontem, este verdadeiro prodígio colombiano valeu um penálti (mesmo falhado) e partiu a loiça toda na jogada que culminou no segundo golo. Hulk redimiu-se mas não fez o melhor dos seus jogos. E até Helton teve ocasião de mostrar que só nos melhores se notam os acidentes de percurso.
Fundamentalmente, onde se esperava coração, o FC Porto respondeu com alma, é certo, mas sobretudo com uma aula de competência e de eficácia que lhe permitiu virar o resultado e dominar a partida. Não fez uma exibição de êxtases? Claro que não. Mas deu um enorme passo para diluir os eventuais fantasmas que um naipe de adversários, mais complicado do que parece, poderia vir a colocar-lhe. Acabou, sem favores do árbitro, a jogar contra nove e a rodar atletas como Djalma e Varela. Nesta “loja” de 300, confirmou-se, não há saldos… nem fiados. E geralmente quem paga são os adversários. Possam outras equipas portuguesas perceber como se faz. Neste caso, copiar não é pecado.
NOTA – Por tudo isto, é inútil e desagradável ver Vítor Pereira, que começa a deixar a sua impressão digital, desgastar-se em quezílias e em bravatas. Perde tempo e perde identidade já que, nessa esgrima particular, nunca será Villas-Boas. E muito menos Mourinho.
In Record
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