Não sei se a frase é minha, mas reitero-a convictamente. Qual é a frase? 'Há uma razão dialéctica que percorre os corredores do tempo com passada larga.' Essa mesma. Minha? Não sei. Mas sei que sei que gosto. Que gosto demais. Há dias, neste Setembro perfumado, passei pela velha rua que me adolesceu. Chama-se 'Independência da Guiné'. Chama-se, porque eu quis que se chamasse. Era assim no ano brasa de 74. Até botei discurso na cerimónia. Tinha 14 anos. Mais parecia, convenhamos, um caso de pedofilia política. Penso que comecei aí, dialecticamente, uma passada larga. Larga talvez até em demasia.
A 'Independência da Guiné' situava-se mesmo ao lado do velho Campo da Avenida, onde jogava o Rio Ave. Já o coração batia de benfiquismo desenfreado, aprendi bola, muita bola, no pelado dos arrabaldes. E na traseira, o hotel da vila recepcionava os estágios dos principais clubes nacionais. Para encantar a minha meninice, lembro-me de conversar com o José Maria Pedroto, o Coluna, o Hilário, o Jacinto João, tantos mais. O Benfica mexia comigo, mas não me cegava. Toda a bola valia mais ainda que o meu clube de afeição. Quem era o meu melhor amigo? Chamava-se Bernardo da Velha, jogava no FC Porto. Com ele passeava, nas manhãs de domingo, jardim afora, persuadido, por via disso, do meu estatuto de gente grande.
Nunca mais vi o Bernardo da Velha, dizem-me que se radicou nos Estados Unidos ou no Canadá. De pouco importa. Mas já importa que me fez sentir gente, gente sabedora, gente importante, gente da bola.
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