setembro 01, 2011

Contra a Corrente _ Leonor Pinhão


Motivos de interesse, de satisfação e de alívio


O Benfica está a fazer este ano um arranque de época bem melhor do que o do ano passado, mas também não era preciso muito para fazer melhor do que fez em 2010/2011, quando ia a época mais ou menos por esta altura.

Os benfiquistas andam mais satisfeitos, nota-se. Basta ouvi-los falar…

- Gostaste do Nolito?

- Não vi. É muito pequenino e estava muito nevoeiro.

- O Gaitán anda desconcentrado.

- É desde que está a ser observado pelo Manchester United.

- Ah, pois. Pode ser que se concentre em grande no jogo com o Manchester, na Luz.

- Vais?

- Vou.

- O Bruno César tem pinta, não tem?

- Tem, pois. Até faz lembrar o nosso grande Isaías…

- Parecia um jogador de râguebi a correr sessenta metros com a bola.

- Com o melão, queres tu dizer.

- Com o melão sei quem ficou…

- Incrível como o Bruno César não foi parar ao Porto.

- Agora andam atrás do Funes Mori.

- O Freud explica.

- Viste agressão ao Witsel?

- O árbitro foi um herói.

- O nosso Jesus está muito sereno.

- Está, está, está.

- O Domingos é que parece tristonho.

- Não está a conseguir pôr o Sporting a jogar à bola como fez com o Braga.

- Porque no Sporting, ao contrário do que aconteceu em Braga, não esteve lá antes o Jorge Jesus durante dois anos a fazer-lhe a papinha toda.

- Está bem visto.

- Isto do futebol não é nenhuma ciência oculta!



O fim-de-semana tinha reservada uma alegria para quem gosta de futebol. O regresso da Liga espanhola, a melhor do Mundo e arredores, sendo que os arredores somos nós, os portugueses, que vivemos mesmo ao lado, entre a Espanha e o mar, por isso mesmo nos chama, com toda razão, um país periférico.

Para os benfiquistas, muito especialmente, este regresso da Liga espanhola no seu esplendor trouxe-nos os mais diversos motivos de interesse, de satisfação e até de alívio. O interesse pelo desempenho do Granada de Júlio César, Carlos Martins, Yebda e, mais recentemente, Jara, que começou mal, a perder em casa; a satisfação por revermos Fábio Coentrão na qualidade de homem dos sete instrumentos do Real Madrid; e, finalmente, o alívio por podermos ver Roberto, um tipo bem simpático, a jogar durante 90 minutos sem ser com a camisola do Benfica.

Aconteceu no Saragoça – Real Madrid que terminou em goleada expressiva. Quer os comentadores da transmissão televisiva, quer os analistas da praxe, quer o cidadão comum, o homem da rua, todos concordaram que Roberto não teve culpas em nenhum dos seis golos que sofreu. E são capazes de ter razão.

Roberto é, na verdade, o guarda-redes ideal para uma equipa como o Saragoça, onde, aliás, já fora feliz antes da sua patética passagem pelo Benfica. No domingo, por exemplo, Roberto esteve sempre em acção porque o Real estava inspirado e nunca deixou de andar muito perto da baliza dos donos da casa.

E Roberto estando sempre em acção, porque a equipa que agora defende é do meio da tabela e vai obrigá-lo a intervir mais vezes durante um jogo, é natural que tenha até os seus momentos de grande brilho entre os postes, tantas são as que lá vão…

No Benfica, que é superior ao Saragoça, tem outras ambições e um futebol bem mais ofensivo, Roberto não tinha nem tempo nem ocasiões para “aquecer” as luvas. Remetido ao papel de espectador a maior parte do jogo, vendo da sua baliza os colegas a jogar perto da baliza adversária, era um Roberto a frio que, em muitos jogos, era chamado a duas ou três escassas intervenções que, decididamente, não podia falhar.

E falhou algumas, é certo, se quisermos evocar o assunto com benevolência. Se preferirmos evocar o assunto sem benevolência, falhou um fartote.

Que seja muito feliz em Saragoça, é, de certeza, o desejo de todos os benfiquistas que vão continuar a seguir a sua carreira mas de longe.

Benza-o Deus, esse é mesmo um grande alívio…

Apesar de jogar sem o Nolito, o Barcelona venceu o FC Porto no Mónaco e conquistou a Supertaça da UEFA no culminar de uma semana tempestuosa no futebol português, por obra e graça do Sporting que está revoltado com a qualidade da arbitragem nacional.

A Pinto da Costa não lhe ocorreu dizer nada depois do jogo com o Barcelona mas antes do jogo, ainda em Portugal, comentou com a ironia do costume este levantamento de rancho sportinguista contra os homens do apito. “Os árbitros têm sido uns heróis”, disse o presidente FC Porto em acto de solidariedade com a classe que tão mal tratada tem vindo a ser pelo Sporting que, entretanto já perdeu 7 pontos que só lhe podem fazer falta.

Não é só para Pinto da Costa que os árbitros têm sido uns heróis.

Também a UEFA pensa exactamente da mesma maneira e só assim se justifica que Michel Platini tenha mandado para dirigir o jogo do Mónaco entre o Barcelona e o FC Porto o árbitro holandês Bjorn Kuipers que apitou no Porto, na Primavera passada, o jogo com o Villareal e que acabou envolto em suspeitas gastronómicas nas primeiras páginas dos jornais espanhóis por ter ido cear com António Garrido à Marisqueira de Matosinhos depois do jogo no Dragão.

- Agora vais ao Mónaco e vais provar que és mesmo um herói! – foi o que Michel Platini disse a Bjorn Kuipers na sala dos fundos da sede da UEFA na Suiça, que é um país neutral.

E lá foi até ao Mónaco o holandês Kuipers para provar ao Mundo a sua fibra de herói.

Talvez tenha até exagerado porque expulsou dois jogadores do FC Porto e, como se não bastasse, os portistas (que viram a sua equipa valorizar a vitória do Barcelona oferecendo uma réplica condigna aos campeões da Europa) ainda se queixam de uma grande penalidade que terá ficado por assinalar a favor do campeão português.

Vítor Pereira, com humildade, reconheceu o heroísmo do árbitro:

- É muito complicado marcar um penalti conta o Barcelona - disse quando já Messi e companhia encaixotavam a taça no balneário para a levar para casa.

Mas, muita atenção, leitores: este Vítor Pereira que disse que é muito complicado marcar penaltis contra o Barcelona é o Vítor Pereira – treinador do FC Porto, não é o Vítor Pereira – presidente dos árbitros portugueses.

O Vítor Pereira – presidente dos árbitros portugueses jamais diria semelhante barbaridade. Porque uma coisa é o que se passa lá fora, outra coisa é o que se passa cá dentro. E cá dentro não há Barcelonas nem complicações nenhumas.

Não há nem vai haver!

Ainda Vítor Pereira – treinador do FC Porto e ainda o jogo da Supertaça no Mónaco. Disse Pereira na conferência de imprensa antes da partida:

- Nós não viemos ver o Barcelona jogar à bola.

Bom, isso acabou por não ser totalmente verdade… as muito honrosas estatísticas do jogo garantem que houve 68% de posse de bola para o Barcelona e 32% para o FC Porto, o que prova que o FC Porto viu mais o Barcelona a jogar do que o Barcelona viu o FC Porto a jogar. Mas isso pouco interessa.

Mais coisa, menos coisa, o que interessa sempre é o resultado.
 

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